A morte do pequeno Benício, de apenas 6 anos, dentro do Hospital Santa Júlia, em Manaus – AM, reacendeu uma discussão urgente sobre um modelo de saúde onde o “lucro acima da vida” pesa mais que a segurança do paciente. Fundado em 1993, o Santa Júlia começou como um hospital de médio porte na zona Centro-Sul de Manaus, crescendo ao longo dos anos com expansão de leitos, construção de novas alas e fortalecimento de serviços de urgência — sempre em meio a críticas recorrentes de sobrecarga, terceirização de mão de obra e denúncias de falta de profissionais essenciais. Foi exatamente nessa estrutura em expansão, mas constantemente questionada, que ocorreu o caso que hoje choca o Amazonas e o Brasil.

Ao mesmo tempo em que a médica e a técnica de enfermagem claramente cometeram um erro grave, trabalhadores da saúde levantam outra pergunta: será que prender duas profissionais resolve o problema — ou apenas alimenta a impunidade dos verdadeiros responsáveis?
Se houvesse farmacêutico no plantão, o medicamento teria sido liberado com erro?
Se houvesse enfermeiro supervisor, a técnica administraria sozinha uma dose crítica de adrenalina?
Se houvesse educação permanente para uma profissional com apenas 7 meses de formada, o desfecho seria o mesmo?
Para muitos, a resposta é evidente: não.
E enquanto isso, os Conselhos de Medicina, Enfermagem e Farmácia seguem sem dar explicações sobre sua ausência na fiscalização, enquanto o proprietário do hospital — que lucra e corta custos ao mesmo tempo — permanece intocado.
A pergunta que ecoa entre trabalhadores é simples:
👉 Quem está realmente lucrando com esse sistema?
👉 O trabalhador exausto ou o empresário que economiza até onde não pode?
O fato é que Benício não morreu apenas por um erro, mas por um sistema que há anos sacrifica qualidade, supervisão, condições de trabalho e segurança do paciente em nome da eficiência financeira.
Aqui vai o que se sabe até agora de concreto sobre o caso da morte do menino — apelidado pela mídia como “pequeno Príncipe” — no Hospital Santa Júlia.

✅ Dados confirmados até o momento
- A vítima é o menino Benício Xavier de Freitas, de 6 anos.
- Ele foi levado ao hospital com quadro de tosse seca e suspeita de laringite.
- A médica que o atendeu, Juliana Brasil Santos, prescreveu — segundo o receituário — três doses intravenosas de adrenalina (3 ml cada, em intervalos de 30 minutos).
- A aplicação dessa medicação foi feita por uma técnica de enfermagem, que, segundo relatos da família, disse que “nunca havia administrado adrenalina por via intravenosa”. Mesmo assim, a dose foi dada.
- Logo após a primeira dose, a criança passou mal: convulsões, palidez, relato de “coração queimando” e piora súbita do quadro, segundo o pai.
- O menino foi encaminhado à UTI, intubado, e sofreu múltiplas paradas cardíacas — em um dos relatos, seis — antes de falecer na madrugada do dia seguinte.
- A família registrou boletim de ocorrência no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP), apontando possível erro médico.
- A unidade hospitalar informou que instaurou uma apuração interna, por meio da “Comissão de Óbito e Segurança do Paciente”, e que a médica e a técnica de enfermagem foram afastadas.
- O Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) investiga o caso. O inquérito está em andamento para apurar se houve erro, negligência ou imperícia.
- Também o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) abriu procedimento ético-profissional contra a médica.

🎯 Elementos centrais de controvérsia / o que é debatido
- A dose prescrita e administrada (3 ml endovenosos) é considerada — por especialistas citados pela imprensa — muito acima da faixa segura para uma criança de ~21 kg, o que configura superdosagem severa.
- A própria médica, em relatório interno que integra a investigação, admitiu ter cometido erro ao prescrever adrenalina por via intravenosa, quando o usual para casos leves de tosse/laringite seria tratamento mais conservador ou outra forma de administração.
- A técnica de enfermagem ressaltou que não havia experiência anterior com adrenalina intravenosa nessa criança — o que levanta questionamentos sobre a supervisão e responsabilidade profissional ao acatar a prescrição.
📌 A situação jurídica e institucional até agora
- A dupla (médica + técnica de enfermagem) foi afastada do hospital.
- O caso tramita sob investigação policial no âmbito do 24º DIP da PC-AM.
- O CREMAM também instaurou processo ético-profissional contra a médica, com procedimento sigiloso.
- A família e seu advogado já solicitaram responsabilização judicial (inclusive com pedido de prisão preventiva da médica), mas a Justiça negou a prisão preventiva — o caso segue em investigação.
⚠️ Limitações atuais do que se sabe — o que ainda não é definitivo
- Até o momento não foi divulgado publicamente o laudo final da necropsia que comprove com precisão a causa da morte como “adrenalina excessiva / erro de medicação”. Fontes apontam que o laudo deve sair em até 30 dias.
- A reconstituição completa das circunstâncias — se houve falha apenas no ato de medicação, erro de prescrição, negligência, imprudência, ou conluio institucional — depende da conclusão da investigação da Polícia Civil, que ainda está em curso.
- Como o procedimento ético do CREMAM tramita em sigilo, não há visibilidade pública sobre possíveis sanções administrativas até que a investigação seja concluída.
✅ Por que até agora o caso tem base concreta (e não é só teoria)
O que temos de concreto — prescrição escrita, relato da família, reconhecimento de erro pela médica, afastamento da equipe, investigação policial e ética, e a confirmação de que medicação intravenosa e em dose crítica foi administrada — configura, do ponto de vista jornalístico, médico e legal, um conjunto robusto de indícios. Isso tem gerado mobilização pública e forte comoção, bem como pressão pela devida responsabilização.
O socorrista Denison Vilar, profissional do SAMU, líder do movimento social TODOS PELA SAÚDE, que luta por melhores salários e condições dignas de trabalho para os profissionais da saúde, denunciando abusos de empresas, governo e sindicatos, críticou o modelo de gestão hospitalar focado no lucro, especialmente após a morte do menino Benício, de 6 anos, no Hospital Santa Júlia.
Em seu grupo de WhatsApp destinado à mobilização de trabalhadores da saúde, ele levantou questionamentos sobre a responsabilidade estrutural do sistema na tragédia. Embora reconheça que houve erro por parte da médica e da técnica de enfermagem envolvidas, Vilar defende que a responsabilização individual não resolve o problema central, que, segundo ele, é um modelo de gestão que opera com equipes reduzidas, supervisão insuficiente e ausência de profissionais essenciais, como farmacêuticos e enfermeiros supervisores.
Ele também critica os Conselhos profissionais de Enfermagem, Medicina e Farmácia pela falha em fiscalizar adequadamente instituições de saúde. Para Vilar, a morte do menino é resultado de um “sistema movido pelo lucro”, que precariza o trabalho, coloca profissionais sob pressão e fragiliza a segurança do paciente.
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Palavras-chave
Benício, Hospital Santa Júlia, lucro acima da vida, erro médico, Manaus, saúde privada, denúncias, fiscalização, Conselho de Enfermagem, Conselho de Medicina, SAMU, precarização, segurança do paciente


