Desde que retornou ao cargo de presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva tem adotado uma postura de aproximação com governos autoritários na América Latina. Entre eles, o de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, cujo regime é amplamente criticado por violações de direitos humanos e repressão política. Contudo, Lula frequentemente faz declarações públicas de apoio a Maduro, minimizando as denúncias internacionais e buscando legitimá-lo como líder, apesar das acusações. Neste artigo, examinamos os eventos e falas que refletem a posição de Lula sobre a Venezuela, detalhando os conflitos de interesse e as tensões diplomáticas.
Aproximação e Defesa Pública do Regime Maduro

Logo no início do novo mandato, Lula não apenas reconheceu Nicolás Maduro como o líder legítimo da Venezuela, mas declarou que o país vizinho deveria ser tratado com “respeito e dignidade”. Durante uma visita de Maduro ao Brasil, em maio de 2023, Lula surpreendeu ao relativizar as constantes denúncias de violações de direitos humanos feitas por organismos internacionais contra o governo venezuelano, descrevendo essas acusações como uma “narrativa construída” para enfraquecer o regime chavista. “A Venezuela tem mais eleições que o Brasil”, declarou Lula, insinuando que o país vizinho teria uma democracia tão legítima quanto a brasileira. As falas foram feitas durante uma entrevista no programa Conversa com Bial, da TV Globo, em 15 de maio de 2023, e geraram ampla repercussão na mídia nacional e internacional.
Violação de Direitos Humanos e Lula “Passando Pano”

Apesar das evidências, Lula segue “fazendo vista grossa” para as práticas repressivas do regime venezuelano. Entre 2014 e 2023, a ONU e diversas ONGs de direitos humanos documentaram inúmeros casos de tortura, desaparecimentos forçados, prisões arbitrárias e até mesmo mortes de opositores sob o governo Maduro. Um dos episódios mais emblemáticos foi a prisão e subsequente morte do político Fernando Albán, em 8 de outubro de 2018, enquanto estava sob custódia das forças de segurança venezuelanas. O caso foi classificado como suspeito pela ONU e por diversas organizações, mas não mereceu nenhuma condenação pública por parte de Lula. Ao contrário, ele continuou com elogios a Maduro, minimizando a gravidade da repressão e reiterando a “legitimidade” das eleições venezuelanas, apesar de relatos de falta de transparência e manipulação dos resultados eleitorais.
A Tentativa de Maduro de Expandir o Território Venezuelano e os Caças em Espaço Aéreo Brasileiro

No segundo semestre de 2023, Nicolás Maduro expressou interesse em expandir o território da Venezuela, reivindicando áreas na Guiana e sugerindo a anexação de territórios próximos ao Brasil. Essas declarações de Maduro elevaram a tensão na fronteira, levando o exército brasileiro a aumentar a vigilância, especialmente em Roraima. Em outubro do mesmo ano, caças venezuelanos chegaram a invadir o espaço aéreo brasileiro, o que resultou em uma resposta discreta do Brasil. Mais uma vez, Lula evitou qualquer crítica direta ao governo de Maduro, tratando o incidente como uma “questão menor” e enfatizando a necessidade de diálogo pacífico na região, apesar do claro desrespeito à soberania brasileira.
Relações com os Estados Unidos e a Recompensa pela Prisão de Maduro

O cenário internacional adiciona um novo nível de complexidade ao dilema brasileiro com relação à Venezuela. Durante o governo de Donald Trump, os EUA impuseram sanções severas ao governo Maduro e chegaram a oferecer uma recompensa pela prisão do líder venezuelano, acusado de narcotráfico e violação de direitos humanos. A presença de Maduro em território brasileiro tornaria obrigatória sua detenção, devido aos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, incluindo convenções contra o narcotráfico e cooperação policial. No entanto, Lula vem tentando evitar esse impasse, mantendo sua proximidade com Maduro, o que levanta questionamentos sobre até que ponto o Brasil estaria disposto a cumprir seus compromissos internacionais para proteger o líder venezuelano.
BRICS e o Apoio Russo ao Regime Chavista

O cenário se complica ainda mais com a recente tentativa da Venezuela de integrar o BRICS. Maduro afirmou repetidamente que a Venezuela já faz parte do bloco e que conta com o apoio da Rússia para essa adesão. No entanto, o Brasil se opôs publicamente, temendo que a inclusão de Maduro pudesse comprometer a imagem do grupo e atrair ainda mais críticas internacionais ao bloco. A resistência brasileira, apesar de alinhada à necessidade de manter a independência diplomática, tem sido tratada de forma contida, com Lula evitando declarações críticas a Maduro, mesmo diante das pressões. Durante uma reunião com líderes dos BRICS, Lula chegou a relativizar a adesão venezuelana ao bloco, argumentando que a prioridade seria fortalecer as relações econômicas e evitar qualquer envolvimento direto nos conflitos políticos internos de seus membros.
A Relativização do Conceito de Democracia
A postura de Lula em relação a Maduro levanta um debate delicado sobre o conceito de democracia. Durante o programa Conversa com Bial, na TV Globo, em maio de 2023, Lula afirmou que a Venezuela “tem mais eleições que o Brasil” e questionou o conceito de democracia utilizado para criticar Maduro. A fala gerou críticas de especialistas e políticos brasileiros, que consideraram a declaração uma relativização perigosa da democracia e uma forma de “passar pano” para um regime autoritário. Para analistas, a postura de Lula em ignorar as evidências de manipulação eleitoral e repressão política na Venezuela não apenas compromete a credibilidade do Brasil como defensor da democracia, mas também coloca em risco a imagem do país no cenário internacional.
Conclusão
A postura de Lula em relação à Venezuela mostra o quanto o Brasil pode estar comprometendo sua diplomacia ao privilegiar alianças ideológicas em detrimento de compromissos internacionais. As contínuas declarações de apoio a Maduro, a minimização das violações de direitos humanos e a relativização da democracia venezuelana configuram um cenário preocupante. Em tempos em que o Brasil enfrenta tensões na fronteira, episódios de violação de seu espaço aéreo e uma crescente pressão internacional, a posição de Lula desperta questionamentos sobre até onde o governo brasileiro está disposto a ceder em nome de uma aliança com o chavismo. Afinal, até que ponto a soberania e a segurança nacional podem ser negociadas em nome de uma afinidade ideológica?
Para a população brasileira, o impacto dessas decisões é direto e imediato, pois a crise venezuelana não apenas representa uma ameaça à estabilidade regional, mas também um dilema ético que coloca em xeque os valores democráticos que o Brasil historicamente defende. O desafio de Lula será equilibrar a proximidade com Maduro sem comprometer a integridade do Brasil e o respeito às leis e acordos internacionais.